Viver sem você era absurdo, me faltava ar, me faltava uma porção de coisas essenciais.
Agora já não me lembro mais do meu primeiro estado, antes desse inferno astral. Também não me lembro do meu primeiro corpo, que fora me deixando como uma casca, como se eu estivesse trocando de pele, de endereço. Não tenho noção de quantos dias se passaram depois que fugi com o circo. Nem de como vim parar nessa aldeia, ou quanto tempo de vida tem o meu menino mais velho. Eu só sei de uma coisa, aquela falta de ar às vezes me vem com força, culpa da bronquite e daquele mestiço ali, aquele do canto, com um meio sorriso e olhos castanhos. Ele é quem me acorda todos os dias, brinca com os meus sonhos, me acaricia as mãos, ordena coisas às flores, planta jardins no meio do cimento, ordenha vacas, retira os espinhos e compõe lindas cantigas de ninar. Depois que o achei perdido por ai, me encontrei de novo.