segunda-feira, 27 de abril de 2009

Surtos e pombos a vista.


Eu sempre soube que chegaria a minha vez de cometer loucuras, de ter surtos ou piorar as minhas crises existenciais. O esperado era que tudo isso viesse me acompanhar ao logo da aposentadoria “rechonchuda” que eu ganharia com meu cargo de professora. É claro que estou ironizando, bastar-me-ia boas companhias e um bom sanduíche com patê que eu ficaria bem, mesmo sem a tão chamada boa aposentadoria. Esse era o plano, eu não esperava correr feito louca atrás dos pombos com migalhas de pão, também não esperava recitar poemas em uma língua que não conheço direito ou me apaixonar pela pessoa mais complicada do mundo. Infelizmente os atos aconteceram mesmo sem previsão, depois vieram às longas noites de insônia à procura de um bicho de estimação perfeito (que de preferência não fosse um peixe), crises de choro ainda maiores do que as que eu tinha, medo do telefone quando toca, bloqueio criativo nas horas mais indevidas. É, eu soube que estava começando a surtar. Essa vontade doida de fazer coisas indevidas, acordar na madrugada pra fazer listas ou ir ao teatro só pra rir dos meus caros amigos, retroceder no meu estilo musical, começar a conversar com a minha irmã, aprender a me maquiar, a bordar e usar vestido de bolinhas.As coisas não andam muito bem,percebem?Estou começando a me sentir parecida com a velha senhora da esquina, cabelos grisalhos, casacos de frio e novelas da sete, a diferença é que a beata vive de festa pelos cantos, joga truco com os senhores da caminhada e visita os amigos todo fim de tarde, e eu... Eu apenas passeio pela praça e recito poemas inacabados.