sábado, 20 de março de 2010

Não me diga que o mundo anda mal.

Ele não estava debaixo da cama, nem da escada. Não foi guardado na dispensa de alimentos, não estava em cima do telhado, nem dentro do livro mais antigo. Ele não se escondia nos lagos, não vivia com os cavalos e nem se afogava nos oceanos. Não cabia na carteira, não se sentava à mesa, nem ficava conversando no portão. Quando criança não atirava pedrinhas nos pássaros, não se lambuzava com as mangas roubadas do Sr. Miguel e nem cometia pecados depois da missa.

Deus não dava sinal de vida desde a década de 80. Não aparecia nas manchetes dos telejornais, não estava no púlpito das igrejas, menos ainda em um quarto de hotel. Não conseguíamos entrar em contato com Ele. Ele não atendia telefonemas e também não respondia aos e-mails.

Mês passado decretaram: - Deus está se aposentando!

Depois do choque, do ‘chororô’ danado, das crianças com olhos vermelhos, das senhoras cantando uma triste canção, dos cachorros choramingando sem parar, dos doentes perdendo a fé... Deus começou a se mostrar. ‘Vezenquando’ acenava de longe, sorria um sorriso de menino (que só os que o procuravam conseguiam ver). Balançava crianças de rua nos balanços da praça, pela manhã trazia frutas aos desabrigados, ajudava senhores a atravessar na avenida, acrescentava feijão nas panelas com alguma escassez, fazia chover nas plantações, reconciliava casais, protegia mulheres que voltavam do trabalho à noite e sumia de novo. E no fundo todo mundo tinha medo de encontrá-lo.