terça-feira, 30 de março de 2010

Um barzinho, um violão.


Sentados à mesa, fim de tarde, com um cara no canto tocando João Gilberto. Cá estávamos nós, pernas inquietas, intertextualidade de filmes, livros e piadas (coisas que só a gente consegue fazer). Depois de tudo isso, já meio alterados (eu confesso), surgiu a pergunta:

-Você já traiu?

- Ahn? – respondi como se quisesse fugir, embora conhecesse bem a figura. Não se contentaria com caras e bocas e um possível sorriso sinistro.

- A pergunta é simples. Você já traiu alguém? – tornou a dizer.

- Pergunta simples para uma resposta complicada. - falei freneticamente – Eu não gosto muito de conversar a respeito, mas já que estamos aqui, eis o fato:

Sim, eu já traí.

(Poucos segundos de silêncio)

- Deixe-me contar as minhas nuances, antes que você piore ainda mais a imagem que tem de mim – disse com um sorriso lerdo – Acho que todo mundo já cometeu esse (e outros pecados). Eu então... faço-o com certa constância. Já me traí várias vezes. Deixei de lado princípios que tinha, coisas que acreditava. Chorei por outra pessoa no colo de alguém com quem eu namorava. Traí meu time de futebol (isso na época que eu gostava de futebol), traí a confiança dos meus pais e etc. Traí sim e também fui traída.

(Ele fez cara de quem não gostou muito e de quem ainda esperava o desfecho da história)

- O quê? Eu já te contei essa né. Vamos virar a página. Hoje já não tem importância, importava antes, quando existia amor. – continuei – Agora você se lembrou né? Eu lá em cima do edifício, toda compenetrada e você... Você me aparece do nada dizendo:

- Calma amiga. Lembre-se que você tem chifres e não um par de asas.

(Risos escandalosos)

- Você me salvou naquele dia – disse em voz alta – Se você não tivesse traído sua namorada e me procurado para contar o feitio... Deixa quieto.

A noite vinha se apresentando. E “Doralice eu bem que te disse, essa embrulhada em que vou me meter [...]” tocava ao fundo embalando o final da conversa. Brindamos. Afinal amigo também é um pouco filho da puta.

segunda-feira, 29 de março de 2010

O que eu tenho a dizer sobre os hospitais


Paredes brancas.

Lençóis de cores mortas pra contradizer as flores recém-chegadas

Pacientes e aventais com cheiro de coisas novas.

Não é permitida a entrada de acompanhantes sexuais.

Álcool em gel em todas as extremidades.

Horário marcado com médicos que não gostam de relógio.

Cantadas de pedreiro também acontecem entre os enfermos.

Carne de panela e gelatina azul no café-da-manhã.

TV a cabo, tédio e ‘caso Isabela’ nos domingos de paz.

O que uma porcaria de hérnia não faz?

Conhecer enfermeiras por nome e sobrenome.

E as agulhas então... “agora é que são elas”.

Pra não dizer que não tenho coisas boas a falar sobre hospitais:

o jeito como afofam os travesseiros... é demais!