domingo, 11 de julho de 2010

Confissões e Virginia Woolf


Há quem tenha marcas na parede de casa, de todas as espécies, achatadas, redondas ou em forma espiral. Há quem acredite que elas pertenceram aos antigos donos, aos rastros de caracol ou às mariposas esmagadas na calada da noite. Seja de quem for a culpa, há sempre uma marca. Como de praxe, existe uma no meu quarto, bem ao lado do ventilador de teto. Penso que ela seja mais bizarra que o normal, com alguns contornos esdrúxulos e cores mortas (poeira, talvez?). De vez em quando, ela aparece em outros tamanhos. A primeira vez que a vi, foi no dia em que completei doze anos de idade. No início eu me assustava com a marca, com a baleia (pra ser exata), pronta pra me dar um abraço. Eu corria para a cama dos meus pais, aquela época o bicho papão estava no auge, acabei associando-a a ele. Depois de um tempo ela já não me parecia tão ameaçadora e agressiva. Conversávamos por oras a fio, ou melhor, eu falava enquanto ela me ouvia. Nesse laço intrínseco, acabei me esquecendo que ela não passava de uma marca (ou mancha) qualquer, que me visitava sempre que podia. Hoje, com meus quase dezenove anos, a marca está desaparecendo.

(...) E não preciso dizer que estou indo dormir na cama com os meus pais.

Toc toc


Quando dei por mim as coisas já tinham acontecido, sem muita explicação. Eu já estava desnorteada, trêmula e com 110 batimentos cardíacos por minuto. Assim que o amor voltou a me pregar peças (nessa ladainha de ir e vir sem pedir permissão), a vizinhança teve muito que comentar. Constantemente ele me acordava de noite jogando pedrinhas na minha janela.
Eu gritava: - Seu moleque! Vá acordar a mãe.
Era a única maneira de voltar a dormir. Outro dia, sem querer, tropecei sobre ele na calçada de casa. Envergonhada, pedi um milhão de desculpas e dei de costas. Meses depois, quando eu imaginava que ele tivesse desaparecido ou sido adotado, a campainha começou a tocar. O tal do amor estava lá de novo, dessa vez tinha nos olhos uma beleza que eu desconhecia. Estampou um meio sorriso e me perguntou:
- Moça, eu posso entrar?
Desde então, nunca mais me deixou.