sábado, 21 de agosto de 2010

Nome próprio


Eu quero ter um nome bem bonito.
Não precisa ser nome de santo ou de Porto Rico.

Eu quero ser alguém que todo mundo goste
mas que não se lembre apenas do circo, do ciclo
ou do pode ou não pode.
Eu quero uma música pra dançar,

sem que seja preciso aprender a dança ou o trote.
Eu quero a vida com gosto de maçã verde,
daquelas em que a gente põe melado e lambreca o rosto.
Eu quero uma porção de amigos pra contar estórias
e quem sabe assar marshmallow na fogueira,

quando a gente for acampar.
Enfim, eu quero um nome próprio
desses em que a gente respira fundo e diz:
Existe?

Blá

Me inspirei nesse lance de bloqueio criativo, não exatamente.
Peguei como desculpa pra explicar o porquê de não escrever alguma
coisa que preste.
E como já disseram antes, a ausência de inspiração causa angústia,
a angústia causa insônia, a insônia acaba com o mundo dos sonhos
e te leva a frequentar um mundo noturno um tanto quanto maléfico à saúde.

Intimidade


Quanto custa? Quanto custa contar tudo que sei? Quanto tempo faz que eu não deito no seu colo ou visto a sua camisa? Eu nem sei. Sinto falta, mas não lembro o gosto que isso tinha, não lembro o cheiro que eu sentia quando você estava perto e nem mesmo a sua voz. Eu não me lembro daquelas noites sem medo ou das músicas que você cantava pra mim logo que amanhecia, me esqueci onde você morava, onde guardava seus sapatos e qual era a sua sobremesa favorita. Não fiz por mal. Meu computador apagou a minha memória.

Imagine


Ela está trancada no quarto. Raramente sai. Às vezes ela come, outra hora o sol resolve entrar pela janela, tudo depende do dia. Isso acontece sempre que ele se lembra de destrancá-la do quarto. É como uma jaula, ou uma gaiola. Defina como quiser. Se paga para entrar e assistir a cena. É barato, também não tem nenhum requinte ou luxo, é simples, mas o espetáculo vale à pena. Foi o que me disseram. Ontem à noite eu a vi sair. Foi um choque, magra até os ossos e de aparência adoentada. Ainda não acredito que ela escolheu essa vida bizarra e em péssimas condições. Mas cada um faz as escolhas que pode, agarra as oportunidades que lhe convém. Tentei acenar da janela, assim que ela olhou para cima. Sorriu gentilmente. Gastamos alguns minutos. A cena estava estática, ela tinha a resposta e eu tinha a pergunta. Não houve aceno, pedido de socorro ou uma expressão diferenciada. Nem sequer nos apresentamos. Ela sabia o que eu estava pensando, sorriu novamente. Pelo menos foi o que a luz do poste refletiu assim que olhei para baixo. Agachou-se, catou algo no chão,amarrou o cadarço e me olhou pela última vez. Abriu o portão e voltou à jaula. Dessa vez não era preciso perguntar. Ambas imaginávamos um mundo diferente.

Viajando no submarino amarelo


To cansada de materializar as coisas. Primeiro foi a paixão, o sorvete, as coisas que eu trouxe com a abertura dos portais, o vento e o devaneio. Já faz algum tempo que eu queria dizer isso. Odeio essa necessidade viril de fazer surgir coisas, esse sentimento incansável de dar vida (mesmo que seja na imaginação) ao que não pode existir. De onde o sentimento saiu também jorra outras fantasias, sem que seja preciso seguir uma linha tênue de raciocínio. Claro que no lugar onde vivo nada tem muito nexo ou encaixe, é como se surgisse de uma explosão semelhante à teoria do Big Bang. Garanto que o que estou dizendo será compreendido, as próprias palavras vagas e fugitivas justificam a teoria sem ter medo de ser feliz. “Loucos” assim não fazem mal à sociedade, também não estão dispostos a perder uma grande quantidade de tempo com homens ou vermes (tanto faz). Parece até que estou chapada ou louca, mas não é verdade. Bem, meu teste psicológico não alegou nenhuma anomalia. Até consegui ver os dois frangos dançando tango, o morcego andando de bicicleta e os bichinhos no submarino amarelo, enfim... Coisas assim eu não consigo materializar, nem mesmo Mefistófeles traria ao mundo algo tão bizarro.