sábado, 21 de agosto de 2010

Imagine


Ela está trancada no quarto. Raramente sai. Às vezes ela come, outra hora o sol resolve entrar pela janela, tudo depende do dia. Isso acontece sempre que ele se lembra de destrancá-la do quarto. É como uma jaula, ou uma gaiola. Defina como quiser. Se paga para entrar e assistir a cena. É barato, também não tem nenhum requinte ou luxo, é simples, mas o espetáculo vale à pena. Foi o que me disseram. Ontem à noite eu a vi sair. Foi um choque, magra até os ossos e de aparência adoentada. Ainda não acredito que ela escolheu essa vida bizarra e em péssimas condições. Mas cada um faz as escolhas que pode, agarra as oportunidades que lhe convém. Tentei acenar da janela, assim que ela olhou para cima. Sorriu gentilmente. Gastamos alguns minutos. A cena estava estática, ela tinha a resposta e eu tinha a pergunta. Não houve aceno, pedido de socorro ou uma expressão diferenciada. Nem sequer nos apresentamos. Ela sabia o que eu estava pensando, sorriu novamente. Pelo menos foi o que a luz do poste refletiu assim que olhei para baixo. Agachou-se, catou algo no chão,amarrou o cadarço e me olhou pela última vez. Abriu o portão e voltou à jaula. Dessa vez não era preciso perguntar. Ambas imaginávamos um mundo diferente.

Nenhum comentário: