sexta-feira, 3 de julho de 2009

Tal qual peixe de feira


E todo mundo procurava entender a gritaria que vinha do quarto trancado a sete chaves. O barulho das janelas que trincavam e se partiam em mil pedacinhos, ninguém entendia o porquê. O dia era cinza, desses em que se espera chuva ou filmes da tarde que façam chorar. Dava-se para ouvir o tilintar das folhas que se arrastavam na calçada, e lá dentro do quarto estavam as duas. Ambas gritavam em bom e alto som, competiam na voz embora soubessem que apenas a mais velha tinha razão, e não era eu. Eu nunca consigo me meter em encrencas fáceis de serem desfeitas, desde a infância era assim, mas dessa vez aquela mulher me fazia sentir como um peixe enrolado nos classificados de um jornal velho, sempre que me lançava um olhar perturbador e cheio de um sentimento que eu não sabia discernir. E então ela chorou como nunca antes havia chorado e esfregou os olhos com os nós dos dedos. Estava inconsolável e não media as palavras. Ela falava, ou melhor, jogava as palavras como um comerciante que varre a poeira de sua loja. Eu sabia, estava encrencada. Não adiantava quebrar as janelas, os copos, o pescoço. O jeito era encarar os fatos e amadurecer de uma vez por todas.

4 comentários:

clarinha disse...

profundo isso ein nat, parabens pelo blog beeeijo :*

Juhh... disse...

Adorei seu blog!!! ;*

Isa Oliveira disse...

cara, toda vez que eu leio os seus textos, eu fico de boca aberta !
você escrevi muito bem, amei ;*
obrigada pelo comentário. beijo;*

Cadinho RoCo disse...

Existem momentos mais tensos que outros.
Cadinho RoCo