sexta-feira, 10 de julho de 2009

Divã

Deitada no divã, essas pequenas lágrimas voltam a molhar o rosto pelas coisas que eu nunca chorara depois de grande. Eu me sinto uma menina, dessas que andam sempre puxando uma boneca pelo cabelo, a diferença é que a minha boneca (careca há algum tempo) não é das melhores companhias e é por isso que eu choro sempre e converso com as paredes. Às vezes as minhas costas doem de tanto me virar ao avesso atrás dessas coisas que eu nem quero encontrar, então me vem sempre àquela tensão e medo de achar os capetas dos sonhos. Solto belas gargalhadas, pois sou meio menino também, dos que são reis e gostam de enfrentar os dragões na terra da imaginação, o problema é que quando apagam as luzes eu choro, menino tem disso. Homem não chora por amor, mas por outras coisas ele chora certeza. Nessas horas o divã (meio ensopado) vai ganhando novo sentido, aparece com certa entonação religiosa e as vezes eu sinto como se recebesse um abraço e a vida ganha um gosto bom. Como pode?Eu caio em mim, deixo de ser criança, o que antes trazia grande incômodo. Acendo a luz e vejo que o bicho papão (o senhor que morava debaixo da minha cama) está aposentado, as bonecas se casaram ou viraram cidadãs em cima de uma Hillux, os dragões agora vivem na lua com São Jorge e os reis estão morrendo de overdose ou tendo paradas cardíacas. E o divã se torna no fundo minha máquina do tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

texto ótimo!
incrivelmente bom!

vc disse do "seguimento reciproco".
hunm.. mas axo que não.

verifique se seguiu mesmo no seu.

bjss.*--*