
"Essas preciosas ilusões em minha mente não me decepcionaram quando eu era indefesa. E renunciar à elas é como renunciar aos melhores amigos invisíveis." [Precious Illusions - Alanis Morissette]
Abro o zíper de Janeiro e como de costume sou jogada para trás pelos velhos morcegos. A história é narrada por uma voz triste, desconhecida e por uma música típica de Manson (sem comentários sobre o gosto musical do tempo).Prevenida com o que veria e sentiria tomei uma dose de anti-alérgicos iniciais e peguei a lanterna preparada para certa ocasião.Foram dias difíceis mas sobrevivi e isso importa bastante.
Deixo esse capítulo para trás. Continuo a minha viagem pelo tempo, passo por fevereiro e logo tropeço em março. Ah!Março está tão oprimido e molhado que não suporto ficar aqui durante muito tempo (deveria ter avisado ao faxineiro que passaria por ele depois do almoço).O chão de março está completamente ensopado e cheio de cartas,uma pilha delas dedicada à algumas pessoas especiais e só,existem também pedaços de seda (de cor preta),fitas,furos,objetos pontiagudos e um pote de comprimidos coloridos jogados no chão.É,esse não foi dos melhores meses.Embora haja também dois cestos no canto (cheios de abraços,cafunés e coisas do gênero).
Assim que fechei esse zíper senti uma sensação de alívio indescritível.
O sol raiou. Chegou Abril, o zíper se abriu e pude ouvir um monte de gargalhas, uma série de livros (sobre todas as coisas),uma força que jorrava por entre os espaços (anteriormente vazios) e colo (essencial ao capítulo). O chão estava úmido, mas fora coberto de toalhinhas e lenços azuis. Um samba acompanhava essa trajetória...
E na parede estava sendo projetado um vídeo de cambalhotas, festivais de misto quente, latas de sorvete e textos (um monte deles) cheios de histórias engraçadas. De uma hora para outra o vídeo parava e o sol acabava se despedindo,daí os maiores aprendizados e virtudes adquiridos na época também iam embora (para que pudessem voltar no outro dia).E o clima continuava durante os capítulos de maio e junho.
E logo mais o vento disseminava as flores por entre os mesmos.
Os seguintes meses: julho, agosto e setembro tinham um ar de descoberta. O cenário era diferente dos demais, as pessoas também já não eram as mesmas e aquele amadurecimento visto na parede continuou, mas lentamente. A consciência acabou tomando a narrativa. O espaço era um conjunto de tardes de estudo (entre outras coisas) e muitas palavras ditas perambulavam pelo quarto acompanhadas por uma série de experiências (não citadas).
Outubro e novembro passaram rapidamente. Trabalhos e vestibulares gritavam aos ouvidos que o tempo estava acabando. E o tempo acabou...
Acabou entre partes. Acabaram os capítulos de “meninice” e um novo começara a surgir por entre os rascunhos espalhados pela mesa.
Dezembro.
(sem mais delongas.)
Eu não faço parte do grupo de pessoas que acredita em vampiros(quer dizer),eu sou um tanto racional para dedicar a vida a esse tipo de coisa mas as vezes eu penso seriamente que seríamos mais felizes com a presença dessas criaturas.
No fundo eu sei que cada um de nós tem um pouco de vampirismo(notório),somos corpos que vagam das campas de noite e até acordamos com a ligeira sensação de que fomos sugados (não o sangue propriamente dito) mas perdemos as forças,a alegria e os sonhos daí nos tornamos como o personagem comum da literatura de horror e mitologia que conhecemos,é um ciclo.Afirmo que essa comparação é meio estúpida mas não posso deixar de descrevê-la.
Sempre que ouço falar dos vampiros tenho em mente a idéia de sangue(de súbito),o vermelho vivo e caloroso que sai das veias (que salta-que grita).O sangue,aquele que perdemos durante as madrugadas a fio e que até repomos com velhos cálices e taças de vinho,aquele que damos pelos nossos filhos (ou em troca deles),o que vendemos aos que não merecem e o que são usados em pactos (de todas as formas,místicas ou não),o mesmo sangue sugado dos animais e humanos pelas criaturas.
Continuando minha análise percebo que também temos o poder de controlar as coisas e de seduzi-las e contra esse mal não existe hóstia consagrada,alhos ou água benta,nada disso causa efeito significativo.Somos associados aos lobos,aos cães e aos morcegos cada qual com sua personalidade.E ainda dizemos que não temos nada em comum com os vampiros.
Ora o tempo passa e nos apaixonamos,por vampiros (como as fabulas e contos fictícios já previam),nos apaixonamos por pessoas que nos enfraquecem,que nos encantam e que as vezes se transformam sem precisar entrar em contato com as noites de lua cheia.O ciclo continua,como toda maldição passada de geração em geração.
E tudo parece um espetáculo (um grande espetáculo que vai além da Europa Ocidental e do Oriente),abrimos a porta aos vampiros todos os dias (já que os mesmos não entram em lugares onde não são chamados).Os convidamos e logo já podem ceiar conosco sem qualquer resistência.
E ai é que entra a minha pergunta,"Quem será o cardápio de quem...?".
E assim a vida vai me levando onde deseja levar e do resto cuido eu (ainda que mal-cuidado).
Cuido das poucas coisas que tenho,das poucas pessoas que amo (inclusive das que não deveria) e dos pedaços que recolho de mim (aqueles que a pouco foram arremessados no ventilador).
Eu continuo...
Procurando o verdadeiro significado dessa palavra
Eu.